Antonio Pana, de 17 anos, foi sempre o mascote do projeto "Jovens Lideranças"! Quando a iniciativa começou, há dez anos, Pana tinha apenas 7 anos. Apesar de ainda ser uma criança, seu interesse e curiosidade fizeram com que o jovem guineense participasse de todas as etapas do projeto.

Hoje, prestes a terminar o último ano do ensino médio e a sonhar os seus planos futuros, Pana continua envolvido nas atividades do Centro Educacional Amizade São Paulo (CEASP), na Guiné-Bissau, construído no âmbito do projeto de cooperação técnica “Jovens Lideranças”, desenvolvido pelo Brasil, por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e implementado em parceria com a Fundação Gol de Letra, Instituto Elos, Secretaria de Educação do Município de Vitória (ES), Associação Amizade São Paulo e o governo da Guiné-Bissau.

Pana é líder de um dos seis empreendimentos que pretendem contribuir para a sustentabilidade do CEASP, por meio da geração de renda tanto para o Centro como para os jovens envolvidos em cada uma das iniciativas. O seu empreendimento se chama BuliBuli Pedagógico em que o BuliBuli viria, segundo ele, do mexe-mexe das crianças. A proposta busca inovar na área da educação da Guiné-Bissau, ao fortalecer e disseminar a cultura do brincar como elemento fundamental do aprendizado e desenvolvimento das crianças. Os principais produtos serão: oficinas de recreação infantil, desenvolvimento de jogos pedagógicos e formação de educadores.

Em 2017, Pana participou da I Jornada de Empreendedorismo e Sustentabilidade no CEASP e foi ali que nasceu a ideia desse empreendimento. Foram realizadas 16 oficinas e 14 laboratórios para o desenvolvimento de empreendimentos comunitários. Ao final, cada grupo apresentou seu empreendimento para uma banca que avaliou o plano de atividades, a viabilidade e o “fundo Semente” proposto. A partir disso, foram selecionados 6 empreendimentos que começariam a receber mentoria e investimento financeiro para o seu desenvolvimento.

Ao longo dessa semana, Pana participou de uma das atividades de mentoria com uma consultora do Instituto Elos que se encontra na Guiné-Bissau, para alinhar os próximos passos necessários à concretização do empreendimento.

A construção do CEASP

O jovem relembra, com bastante carinho e alegria, dos anos em que, apesar de ainda criança, ter participado ativamente da construção da escola. Pelo fato de morar na mesma casa que seu primo, Paulo Alaquedna, um dos líderes da Associação Amizade na época da construção da escola, Pana relata que, por ser curioso, queria acompanhar o primo em todos os tipos de atividades, desde reuniões na Embaixada do Brasil, até as atividades de mão na massa. E foi assim que ele se tornou o mascote da turma.

“Eu ia para as aulas de manhã e de tarde ia para a escola, onde ficava até de noite a ajudar. Como eu era o mais novo de todos, mas queria fazer algo, eles me puseram para, inicialmente, ajudar a carregar a terra para fazer os tijolos. Na fase seguintes, fiquei responsável por ír buscar as “baga-bagas” (casa do cupinzeiro), para fazer a parte do processo de impermeabilização da escola. Eu liderava a caravana de crianças que ia buscar os baga-bagas”, relata.

O cupim, ao fazer a sua casa, solta uma saliva que faz com que ela seja impermeável e resistente às chuvas, mais do que o convencional. Por isso as baga-baga servem para o processo de impermeabilização, durante uma construção. Depois dessa etapa, é feita a cobertura com óleo de soja. Todas essas técnicas de bioconstrução foram compartilhadas com os jovens guineenses por especialistas brasileiros, no âmbito do projeto, que levaram em consideração as particularidades guineenses de cultura e disponibilidade de materiais quando do processo de construção da escola.

“Na realidade, o que eu mais gostava eram as rodas de conversas que aconteciam no início ou no final do dia de trabalho, em que compartilhávamos os nossos sonhos e aspirações. Com todo esse processo, aprendi a falar na frente das pessoas, sem vergonha ou receio, o que me beneficia muito hoje em dia. Sinto-me feliz e orgulhoso de ter feito parte dessa história”, afirma, entusiasmado.

Pana conta ainda que o seu sonho é contribuir para que, no futuro, um hospital e uma rádio possam ser construídos na sua comunidade. “E, eu falo para as crianças de hoje em dia: ´aproveitem todas as oportunidades que tiverem e não as deixem passar´. Eu era curioso e aproveitei todas as oportunidades que tive. E, também, sempre segui na escola”, conclui, orgulhoso.

Breve histórico do projeto

O projeto “Jovens Lideranças” foi desenvolvido em duas etapas no bairro São Paulo, em Bissau (capital da Guiné-Bissau). Surgiu de um pedido, em 2009, da Associação Amizade (guineense) para a Fundação Gol de Letra (brasileira) de um auxílio para construção de uma escola no local. A partir de 2010, pela articulação da ABC, possibilitou-se o início do projeto, que viria a ser desenvolvido em parceria com o governo da Guiné-Bissau, UNESCO, Secretaria de Educação de Vitória e organizações da sociedade civil, como a Associação Amizade São Paulo (guineeense), Fundação Gol de Letra e Instituto Elos. Outra particularidade do projeto é a transferência de metodologias, tecnologias sociais e a replicação de políticas públicas como o Projeto Escola Aberta. Na primeira etapa, entre 2010 e 2014, realizou-se a formação de lideranças jovens, mobilização comunitária e construção do Centro Educacional Amizade São Paulo (CEASP). A segunda etapa, a partir da entrega do Centro e ainda em desenvolvimento, consiste em apoiar a autogestão sustentável e manutenção do local como polo indutor de atividades e geração de renda por meio de empreendimentos criados pela comunidade, mobilização de doações e parcerias, pagamento de taxa de associados por pais e mães de alunos e provimento de professores e funcionários pelo estado guineense para educação formal. O objetivo do projeto é instrumentalizar a comunidade no sentido de contribuir para que eles possam alçar outros voos em busca do desenvolvimento local.

Imprensa

"Aproveitar Todas as Oportunidades"

Esse é o lema do jovem guineense Pana, de apenas 17 anos, há dez envolvivo no projeto de cooperação brasileiro “Jovens Lideranças”